96x06 – O duelo de gigantes!

Por Renan Raffo da Rocha.

Há muito tempo se esperava por uma partida de vôlei tão equilibrada e de tanto nível como essa. O Brasil inteiro parou para ver o embate de duas talentosíssimas e vitoriosas gerações do nosso vôlei.

De um lado, a seleção de 1996, do bronze olímpico, regida pela genial levantadora Fernanda Venturini, esposa do técnico Bernardo Rezende, e embalada pela raça e gana de Márcia Fu e Ana Moser. Do outro, a seleção de 2006, prata no Campeonato Mundial, comandada pelo técnico José Roberto Guimarães e pela experiente levantadora Fofão, cuja contava com a força de Fabiana e Sheilla e com sua grande companheira Walewska.

Como esperado, o jogo foi marcado por muita tensão e equilíbrio. O único momento em que uma das equipes conseguiu se impor foi no início da partida, quando o selecionado de 2006 abriu 8x3, com lindas defesas de Jaqueline, ataques inteligentes de Sheilla e bloqueios certeiros de Walewska. Após a bronca do treinador Bernardinho durante o tempo técnico, as meninas de 96 pareceram finalmente terem acordado e, com jogadas brilhantes de Venturini para Márcia Fu, dois aces de Ana Moser, e um bloqueio simples de Hilma numa china da Walewska, as medalhistas de bronze em Atlanta diminuíram a vantagem para apenas um ponto (7x8).

Até a 2ª parada técnica, liderada pelas veteranas jogadoras de 1996 por 16x14, houve muitos pontos disputadíssimos com grandes ataques dos dois lados e, principalmente, defesas de tirar o fôlego de qualquer um da líbero Fabi, de 2006, e da meio-de-rede Ana Flávia, de 1996. Fernanda Venturini esbanjava classe em seus levantamentos e impunha um jogo variado e veloz, de difícil marcação para o bloqueio adversário. Outrora Fofão sofria com a inesperada má qualidade na recepção de seu time, que contava com as “feras” no fundo de quadra Sassá, Jaqueline e Fabi, e não tinha condições de trabalhar a 1ª bola com suas centrais, sendo obrigada a empinar bolas altas nas pontas para as três atacantes de extremidade, as quais tinham grandes dificuldades em passar pelo bloqueio de Ana Paula e Ana Moser.

Foi aí que Zé Roberto inverteu o 5/1, colocando Renatinha e Carol Albuquerque no lugar de Fofão e Sheilla. Tal alteração surtiu grande efeito positivo e, embaladas pelos bloqueios de Fabiana e os ataques de Sassá e Renatinha, viraram o placar para 21x19. Bernardinho pediu tempo e logo após colocou Virna no lugar de Ana Moser, que acabara de ser bloqueada três vezes. A Paraíba entrou com vontade e chamando a responsabilidade para si. Virou três bolas em sequência e foi para o saque. Fez um estrago na recepção de suas oponentes e foi a grande responsável pela vitória de seu time, na primeira parcial, por 25x22.

No 2º set, Zé Roberto e Bernardinho retornaram com suas escalações iniciais e o time de 2006 se demonstrou bastante confiante e aguerrido, apesar da derrota no 1º set. A relação saque-bloqueio funcionou muito bem e as meninas mais novas abriram larga vantagem na primeira e na segunda parada técnica (8x4 e 16x12, respectivamente), com grande destaque para a variação de jogadas da levantadora Fofão, a qual se utilizou muito de Sheilla e Jaqueline em jogadas de segundo tempo e Fabiana no primeiro tempo.

Márcia Fu voltou com raiva à quadra, disposta a reverter a situação em prol de seu time e, após pegar Jaqueline no bloqueio simples, comemorou gritando e fazendo cara feia para a sua adversária, a qual ficou bastante incomodada com a situação e retribuiu a má educação, dizendo em alto tom “vá gritar assim com a sua mãe”. Se não fosse o árbitro, Ana Flávia e Fofão para contê-las, certamente iniciar-se-ia uma grande confusão dentro de quadra. Com ânimos mais contidos, Jaqueline pediu a bola pra Fofão, a qual deixou-a no bloqueio simples, novamente de Márcia Fu, mas dessa vez tarimbou uma “medalha” em Hilma, levando, assim, a torcida ao delírio.

A equipe de 2006 soube administrar sua vantagem até o final do set, ao fechar a parcial em 25x20, numa jogada China com Fabiana. Sheilla foi o nome do set com 7 pontos, sendo 6 em ataque e 1 em saque.

3º set: nervos à flor da pele, ambas equipes querendo muito a vitória. Fernanda Venturini mudou sua estratégia e passou a utilizar mais as suas centrais, as quais corresponderam e facilitaram o trabalho das extremas. Desde o início a seleção de 1996 comandou o set. Zé Roberto colocou Paula Pequeno no lugar de Jaqueline, que fora bloqueada 4 vezes e Carol Gattaz no lugar de Walewska para tentar reverter a situação. Tentativas em vão. Ambas não corresponderam e possibilitaram o retorno das titulares. Quando a seleção de 2006 esboçou uma pequena reação com Sheilla e Fabiana, novamente, Bernardinho pediu tempo. No retorno, tudo voltou ao normal e, num desmico com Hilma a seleção de 96 fechou o set por 25x19, em 26 minutos.

Se o selecionado de 2006 quisesse se manter vivo na partida precisava vencer o 4º set, mas não obteve sucesso. Fabiana e Sheilla que estavam se destacando foram bem marcadas por Ana Paula e Ana Flávia e as demais atacantes também não conseguiam virar as bolas. Zé Roberto até tentou pôr Mari no lugar de Sheilla. Ela foi bem, virou suas bolas. Mas não foi suficiente. Jaqueline, Sassá e Paula Pequeno (que entrou durante o set) estavam com muitas dificuldades para pontuar e Fabiana foi bloqueada três vezes. O passe e a defesa também começaram a não funcionar e, com tranquilidade, a seleção de 1996 fechou o set em 25x17 e o jogo por 3x1.

No lado de 1996, Márcia Fu anotou 17 vezes, Ana Moser 13, Hilma 12, Ana Paula e Ana Flávia 11, Fernanda Venturini 1, Virna 4 e Filó 2.
Por 2006, Sheilla fez 15 pontos, Fabiana 14, Sassá 12, Jaqueline e Walewska 11, Fofão 2, Mari 6, Renatinha 5, Paula Pequeno 3 e Carol Gattaz 2.

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